Manejo Integrado de Pragas de Produtos Armazenados

Irineu Lorini

Email: irineu@lorini.com.br

Engenheiro Agronomo, Ph.D. em Pragas de Produtos Armazenados.

As pragas de armazenamento de produtos são uma grande preocupação para quem tem a responsabilidade de manter e garantir a qualidade, e sem a presença das pragas. Um inseto-praga em qualquer produto destinado a alimentação trará preocupações e custos associados para o gestor, comprometendo a qualidade, a marca, a empresa e o negócio, com prejuízo às partes. As perdas por pragas em armazéns, a presença de insetos adultos, larvas e fragmentos em derivados alimentares, a deterioração dos produtos, a possível contaminação com fungos e consequente micotoxinas, os possíveis efeitos na saúde humana e animal, e as dificuldades para comercialização dos produtos tanto no consumo interno quanto na exportação, são algumas das consequências da infestação de pragas de armazenamento de produtos que podem acontecer para as empresas. As perdas físicas dos produtos são significativas, porém as perdas de qualidade são muito maiores. Com a redução destas haverá maior disponibilidade de alimentos para atender as necessidades das pessoas em todo mundo, garantindo um alimento seguro para a população e a segurança alimentar mundial. A solução para minimizar este problema de pragas é o Manejo Integrado de Pragas de Produtos Armazenados.

O que consiste o Manejo Integrado de Pragas de Produtos Armazenados?

O manejo integrado de pragas é um processo que consiste na aplicação de uma série de medidas e métodos, possíveis de serem executados em cada unidade, que devem ser adotados pelos armazenadores, para evitar danos causados por pragas nos produtos e manter a qualidade durante o armazenamento. Esta solução para o problema de pragas pode ser entendida em diferentes etapas como passaremos a descrever a seguir:

Comportamento do armazenador frente ao problema de pragas

Esta é a fase fundamental de entendimento do problema, com a conscientização de todos envolvidos no processo de armazenagem, sabendo que é possível minimizar o surgimento e os danos das pragas nos produtos armazenados. Todos os setores e responsáveis devem ser envolvidos, conscientizados, treinados e estimulados a participar do processo coletivo. Os dirigentes, gerentes, supervisores e colaboradores precisam conhecer o problema, as pragas infestantes, os danos diretos e indiretos e o caminho para o seu manejo que evite prejuízos [5][6].

Conhecimento da estrutura de armazenamento

O processo de armazenamento dos produtos agrícolas tem uma recepção, um beneficiamento, um armazenamento e uma expedição, que devem ser bem conhecidos por todos, nos seus detalhes de abrigo de pragas de armazenamento. As pragas são de tamanho diminuto e podem se abrigar em detalhes de construção da estrutura, iniciando o foco primário para depois infestar os grandes volumes de produtos. Essa criteriosa inspeção deve identificar os locais, avaliar as alternativas de eliminação do foco, minimizando o alojamento das pragas nestes abrigos. Nessa fase também deve ser verificado o histórico de pragas e as medidas usadas anteriormente para o controle. Como as pragas vivem principalmente na estrutura de armazenamento, a correta e precisa identificação do foco facilitará muito a adoção de medidas para a solução do problema de pragas durante o armazenamento [6].

Limpeza e higienização da estrutura de armazenamento

As medidas de limpeza da estrutura de armazenamento são importantes e o rigor na adoção destas garantirá a eliminação dos focos de infestação de pragas. Limpar, varrer o local, usar aspiradores de pó e resíduos, lavar com jato de água com alta pressão e eliminação dos resíduos coletados, são medidas que devem ser seguidas por todos os colaboradores das unidades de armazenamento. Os focos de pragas identificados na fase anterior devem ser limpos e higienizados, pois as diferentes fases de vida (ovo, larva, pupa e adulto) das pragas vivem nestes resíduos coletados. Quanto mais profunda for esta limpeza, maiores serão os ganhos na eliminação das pragas. A eliminação destas pragas da estrutura, auxiliará muito nos métodos de controle, pois as pragas residentes são as de maior nível de resistência e de difícil controle. Após a limpeza, é necessário fazer a higienização dos locais, com tratamento em toda a estrutura armazenadora, com inseticidas protetores de longa duração para eliminar pragas remanescentes da limpeza e proteger o local de outra infestação [6][9].

Identificação das pragas de armazenamento

Existem várias espécies de pragas que ocorrem nos produtos armazenados e podem ser classificadas em dois grupos, como as pragas principais que frequentemente estão presentes e as pragas eventuais que aparecem às vezes nos produtos e nas estruturas armazenadoras e não causam danos diretos. A correta identificação da praga é fundamental para o armazenador, pois dependendo da espécie existe o dano associado, potencial de causar prejuízo e o método de controle a ser usado. Como exemplo, no grupo de pragas principais podem ser citadas Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, S. zeamais, Lasioderma serricorne, Tribolium castaneum, Oryzaephilus surinamensis, Cryptolestes ferrugineus, Ephestia cautella, Sitotroga cerealella, Liposcelis bostrychophila, E. kuehniella, E. elutella, Lophocateres pusillus, Plodia interpunctella e Acanthoscelides obtectus. As pragas eventuais são Gnathocerus cornutus, Ahasverus advena, Araecerus fasciculatus, Carpophilus hemipterus, Carpophilus dimidiatus, Cathartus quadricollis, Cryptolestes pusillus, Oryzaephilus mercator, Tribolium confusum, Zabrotes subfasciatus, Stegobium paniceum e Corcyra cephalonica. Ainda as espécies podem ser agrupadas em primárias e secundárias, conforme o hábito alimentar, ou mesmo em grupos taxonômicos como besouros e mariposas [1][4][5][9]. O importante é identificar a espécie de praga que ocorre na estrutura de armazenamento, pois esta irá direcionar o manejo integrado de pragas.

Potencial de dano da espécie-praga

Conforme visto acima, cada praga tem um potencial de causar prejuízo diferente nos respectivos produtos armazenados. A categoria de praga principal, ocasional ou eventual, ou mesmo, praga primária ou secundária, já determina a severidade da praga. As pragas principais são mais agressivas e causam maior destruição dos produtos armazenados, por isto a atenção deve ser maior ao serem identificadas na estrutura de armazenamento. Muitas vezes, independente da espécie-praga encontrada, a presença de uma delas nos produtos já é um prejuízo na imagem do armazenador e encontra barreiras na comercialização, pois os insetos não são tolerados e inviabilizam a concretização de negócios de produtos armazenados [4][9].

Método de proteção dos produtos com inseticidas

Uma das opções de controle das pragas nos produtos é fazer uma proteção com inseticidas, líquidos químicos ou pó seco natural. A superfície do grão a ser armazenado é impregnada com o inseticida que forma uma barreira ao ataque das pragas, protegendo-os da infestação. Este método é bastante usado e protege os grãos por um período médio de seis meses pelo inseticida químico e por mais de ano para o inseticida natural. A aplicação ocorre no abastecimento dos silos e armazéns, após os grãos estarem limpos e secos, através de equipamentos de pulverização ou polvilhamento. É um método eficaz, que combinado com demais medidas, pode garantir o armazenamento de grãos por longos períodos sem nenhuma infestação de pragas. Esse tratamento visa a garantir a eliminação de qualquer praga que venha a infestar o produto durante o período em que este estiver armazenado. Os inseticidas usados são dos grupos dos organofosforados, dos piretróides e pós inertes, aplicados na correia transportadora, hedlers ou eixo sem-fim de movimentação de grãos na unidade armazenadora. Os pós inertes são inseticidas naturais, na formulação pó seco, a base de fósseis de algas marinhas diatomáceas que agem no inseto-praga por contato, causando a morte por dessecação. A tecnologia de aplicação dos inseticidas deve ser maximizada para uma perfeita cobertura e proteção dos grãos armazenados. As indicações de dosagens dos inseticidas e do tratamento dos grãos devem seguir as orientações dos fabricantes [6][7].

Método curativo ou expurgo dos produtos armazenados

Este método consiste na aplicação de um gás (fosfina) letal para todas as fases de vida das pragas de produtos armazenados, mantido por um período mínimo de 120 horas em ambiente vedado em concentração mínima de 400 ppm. Sempre que houver a presença de pragas nos produtos armazenados deve-se usar o método de expurgo, que possui capacidade de penetração no interior dos produtos e eliminar por completo as pragas. Esse processo de expurgo pode ser realizado em produtos a granel ou ensacados, como silos, armazéns, tulhas, câmaras de expurgo, porões de navios, lotes de sacarias ou bigbags, entre outros. Os locais devem estar sempre com vedação completa para que o gás fosfina permaneça no interior do mesmo pelo período mínimo de exposição necessário para eliminar as pragas [2][3][6][10].

Resistência das pragas aos inseticidas químicos

A resistência das pragas aos produtos químicos é um processo que ocorre e representa a evolução natural das espécies. Para pragas de produtos armazenados que vivem em ambiente fechado, a resistência é um fenômeno que pode ocorrer com maior frequência, e por isto deve ser considerada pelos armazenadores [7][8]. O manejo integrado de pragas de produtos armazenados sempre deve avaliar a resistência das pragas aos inseticidas, uma vez que existem poucas opções de ingredientes ativos para esta finalidade, e esta pode inviabilizar o uso de alguns produtos químicos e dificultar o controle das pragas de armazenamento.

Monitoramento da presença de pragas no armazenamento dos produtos

Para que o manejo integrado de pragas de produtos armazenados tenha sucesso é essencial que exista um sistema de monitoramento de pragas instalado na unidade, independente que seja feito usando plataformas digitais (como exemplo o PIM) ou mesmo em planilhas de registro impressas. Este monitoramento deve ser feito periodicamente na unidade, em intervalos não superiores a 15 dias, e de forma permanente nas unidades de armazenamento. Toda a estrutura deve ser monitorada quanto a presença de pragas de produtos armazenados, incluindo os silos e armazéns de produtos estocados, casa de máquinas, recepção, expedição e o pátio. O acompanhamento da evolução da presença de pragas que ocorrem na unidade é de fundamental importância, pois permite detectar o início da infestação e a tomada de decisão de controle que evite os danos aos produtos e prejuízos para a unidade de armazenamento [5][6][9].

Gerenciamento da unidade de produtos armazenados

A gestão da unidade é afetada pelo manejo integrado de pragas de produtos armazenados e deve ter um sistema em tempo real para a tomada de decisão. As informações dos produtos armazenados e da unidade, precisam estar sempre disponíveis para os gestores, para fazer os procedimentos operacionais adequados, visando evitar os danos aos produtos e os prejuízos operacionais e financeiros a unidade. Este processo deve ser permanente na unidade, pois evitará surpresas de focos de pragas em locais inesperados e que podem comprometer a qualidade dos produtos e o resultado da empresa [6][9].

Referências